Rorate Caeli — Tradução ao espanhol: Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei: Trecho da entrevista com D. Athanasius Schneider realizada e publicada por John Henry Newman Centro de Ensino Superior, Hungria.
Sr. Fülep: Enquanto se persegue a tradição, existem alguns novos movimentos modernos que estão muito respaldados. Um deles é a comunidade de Kiko. Qual é a sua opinião sobre o Caminho Neocatecumenal?
Sua Excelência Dom Schneider: Este é um fenômeno muito complexo e triste. Para falar abertamente: É um cavalo de Troia na Igreja. Eu os conheço muito bem, porque fui um delegado episcopal para eles durante vários anos no Cazaquistão, em Karaganda. E os ajudei em suas missas e reuniões e li os escritos de Kiko, seu fundador, portanto, conheço-os bem. Quando falo abertamente, sem diplomacia, devo dizer: O Caminho Neocatecumenal é uma comunidade judio-protestante dentro da Igreja apenas com uma decoração católica. O aspecto mais perigoso está em relação à Eucaristia, porque a Eucaristia é o coração da Igreja. Quando o coração está em más condições, todo o corpo está em mau estado. Para o neocatecúmeno, a Eucaristia é primariamente um banquete fraternal. Isto é protestante, uma atitude tipicamente luterana. Eles rejeitam a ideia e o ensino da Eucaristia como um verdadeiro sacrifício. Até mesmo argumentam que o ensino tradicional, e a fé na Eucaristia como sacrifício, não é cristã, mas pagã. Isto é completamente absurdo, isto é tipicamente luterano, protestante. Durante as suas liturgias eucarísticas tratam o Santíssimo Sacramento de uma forma tão banal, que às vezes se torna horrível. Eles se sentam para receber a Sagrada Comunhão, e, em seguida, se os fragmentos são perdidos, já não fazem caso deles, e depois da Comunhão dançam, em vez de orar e adorar Jesus em silêncio. Isto é realmente mundano e pagão, naturalista.
Sr. Fülep: O problema não poderia ser apenas na prática …
Sua Excelência Dom Schneider: O segundo perigo é a sua ideologia. A ideia principal do Neocatecumenato de acordo com seu fundador Kiko Arguello é a seguinte: a Igreja tinha uma vida ideal até Constantino, no século IV, somente esta era, de fato, a verdadeira Igreja. E com Constantino a Igreja começou a se degenerar: degeneração doutrinal, degeneração litúrgica e moral, tendo a Igreja alcançado o ápice desta degeneração doutrinária e litúrgica com os decretos do Concílio de Trento. No entanto, contrariamente à sua opinião, o oposto é verdadeiro: esse foi um dos aspectos de maior destaque da história da Igreja, por causa da clareza da doutrina e da disciplina. De acordo com Kiko, o obscurantismo da Igreja durou desde o século IV até o Concílio Vaticano II. Foi somente com o Vaticano II que a luz entrou no Igreja. Isto é uma heresia, porque significa dizer que o Espírito Santo abandonara a igreja. E isto é muito sectário e muito alinhado com Martinho Lutero, quando afirmou que, até ele, a Igreja estivera em obscuridade e foi unicamente por meio dele que a luz veio à Igreja. A posição de Kiko é fundamentalmente a mesma, só que Kiko postula o obscurantismo da Igreja de Constantino até o Vaticano II. Então, eles interpretam mal o Concílio Vaticano II. Eles se dizem apóstolos do Vaticano II. Assim, justificam todas as suas práticas e doutrinas heréticas com o Vaticano II. Este é um grave abuso.
Sr. Fülep: Como pode esta comunidade ser oficialmente admitida na Igreja?
Sua Excelência Dom Schneider: Esta é uma outra tragédia. Eles estabeleceram um poderoso grupo de pressão (lobby) no Vaticano há pelo menos trinta anos. E há um outro engano: em muitos eventos apresentam uma grande quantidade de frutos de conversão e muitas vocações para os bispos. Um grande número de bispos estão cegos pelos frutos, e não veem os erros, não os examinam. Eles têm famílias grandes, filhos numerosos, e têm um alto padrão moral na vida familiar. Isto é, claro, alcança um bom resultado. No entanto, há também um tipo de comportamento exagerado para pressionar as famílias para que obtenham um número máximo de crianças. Isto não é saudável. E dizem, estamos aceitando a Humanae Vitae, e isso, claro, é bom. Mas ao final isso é uma ilusão, porque há também um bom número de grupos protestantes no mundo de hoje com um alto padrão moral, que também tem um grande número de crianças, e que também vão e protestam contra a ideologia de gênero, homossexualidade e que também aceitam Humanae Vitae. Mas, para mim, esse não é um critério decisivo da verdade! Há também um grande número de comunidades protestantes que convertem um grande número de pecadores, pessoas que viviam com vícios como o alcoolismo e as drogas. Assim, o fruto da conversão não é um critério decisivo para mim e eu não vou convidar este bom grupo protestante que converte os pecadores e tem uma enorme quantidade de crianças em minha diocese para participar no apostolado. Esta é a ilusão de muitos bispos, que estão cegos pelo “frutos”.
Sr. Fülep: Qual é a pedra angular da doutrina?
Sua Excelência Dom Schneider: A doutrina da Eucaristia. Este é o coração. É um erro olhar primeiramente para os frutos e ignorar ou não se importar com a doutrina e a liturgia. Tenho certeza de que virá o tempo em que a Igreja examinará objetivamente esta organização em profundidade sem a pressão dos lobbies do Caminho Neocatecumenal, e os seus erros na doutrina e na liturgia realmente virão à luz.
Cristo é o único Redentor.
Sr. Fülep: Há cinquenta anos atrás foi promulgada a declação “Nostra Aetate” do Concílio Vaticano II. Seu quarto artigo apresenta a relação entre a Igreja Católica e o povo judeu em um novo quadro teológico. Esta escrita é um dos documentos do Concílio mais problemáticos e controversos, entre outras coisas, devido às declarações sobre os judeus. E agora para este cinquentenário um novo documento foi escrito pelo cardeal Kurt Koch, em nome da Santa Sé, no qual se lê que “a Igreja Católica não sustenta e nem apoia qualquer obra de missão institucional específica dirigida aos judeus”. Por acaso o mandamento missionário estabelecido por Jesus já não é mais válido?
Sua Excelência Dom Schneider: É impossível, porque seria absolutamente contrário à palavra de Cristo. Jesus disse: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24) e a sua missão continua, não foi abolida. Ele disse: “ide a todas as nações e fazei discípulos”, mas não disse: “ide a todas as nações, com exceção dos judeus.” A declaração acima implica isso. É um absurdo. Isso é contra a vontade de Deus e contra toda a história da vida da Igreja em dois mil anos. A Igreja sempre pregou a todos, independentemente de nação e religião. Cristo é o único Redentor. Hoje, os judeus rejeitam a aliança de Deus. Há apenas uma aliança de Deus: a antiga aliança foi apenas preparatória e atingiu o seu objetivo na nova e eterna aliança. Esse é também o ensinamento do Concílio Vaticano II, “o propósito principal para o qual se dirige o plano da antiga aliança foi preparar-se para a vinda de Cristo. Deus, o inspirador e autor de ambos os Testamentos, dispôs tão sabiamente de modo que o Novo Testamento está escondido no Antigo, e o Antigo se manifesta no Novo “(Dei Verbum, 15-16). Os judeus rejeitaram esta aliança divina, uma vez que Jesus lhes disse: “Quem me odeia, odeia também a meu Pai” (Jo 15,23) Estas palavras de Jesus permanecem válidas para os judeus de agora, “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13:31). E Jesus disse que se não o aceitam, não podem ir ao Pai. Quando os judeus de hoje rejeitam a Cristo, rejeitam o Pai e rejeitam também a sua aliança. Porque, em última análise, é uma aliança única, não duas alianças: a Antiga se tornou a Nova Aliança. Porque há um só Deus, não há dois deuses: um Deus do Antigo Testamento e um Deus do Novo Testamento. Esta é a heresia gnóstica. Esta é a doutrina dos fariseus e do Talmud. Hoje os judeus são os discípulos dos fariseus talmúdicos, que rejeitaram a aliança de Deus em Sua nova e eterna aliança. No entanto, os judeus justos no Antigo Testamento — os profetas, Abraão e Moisés — aceitaram a Cristo. Jesus disse isso, por isso temos de salientá-lo, também.
Sr. Fülep: Em seguida a “Nostra Aetate” João Paulo II chamou os judeus “irmãos mais velhos”, o Papa Bento XVI a eles se refere como os “pais na fé”. Mas os judeus no Antigo Testamento e o judaísmo talmúdico são duas coisas muito diferentes, correto?
Sua Excelência Dom Schneider: Sim, claro. Infelizmente, essas expressões destes dois Papas são também em certo grau um tanto ambíguas. Não são claras. Então, quando estas palavras são no sentido de que os judeus são nossos irmãos mais velhos, deve-se assinalar que apenas os judeus do Antigo Testamento — os profetas, Abraão e todos os santos do Antigo Testamento — são nossos irmãos mais velhos. Isto é correto, porque aceitaram a Cristo, não explicitamente, mas em nível de prefigurações e símbolos, e, Abraão, até mesmo explicitamente, como o próprio Cristo disse: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; e eu o vi e se encheu de alegria”(Jo 8,56). Mas como podemos dizer isso sobre os judeus contemporâneos do Talmud que rejeitam a Cristo e não têm fé em Cristo e na Santíssima Trindade? Como podem ser nossos irmãos mais velhos se eles não têm fé em Cristo? O que estão me ensinando? Tenho fé em Cristo e na Santíssima Trindade. Mas eles rejeitam a Santíssima Trindade, portanto, não têm fé. Consequentemente, nunca podem ser meus irmãos mais velhos na fé.
Entrevista feita e publicado por John Henry Newman do Centro de Ensino Superior, Hungria.